segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Crime e castigo


Crime e castigo

Vejo através de olhos úmidos
Através de miopia
Vejo rostos desfigurados
Uma multidão de espasmos
Que logo juraram ser pecaminosos


Vejo jovens corpos gloriosos
Que bem poderiam ser de qualquer um
Se contorcendo pelos cantos
Ensaiando o escândalo

Criamos os pecados
E nos figuramos incursores
Nos campos, do éden proibido

Nos julgamos
Nos criamos ferozes
E deixamos o julgamento final
Para os vales da morte

E o que é o sofrimento?
E o que é a maldade?
Vivemos para um vale de lagrimas
Para um terremoto de espasmos
Para os confins da noite
E para os seus pecados

E buscamos mais
Buscamos os ancestrais de tal maldade
Somos e éramos
Fomos e erramos
Permanecemos pecaminosos
Sejamos pecaminosos aos portões do amanhecer

Sejamos então o ser que aprende
Comeremos a fruta com ferocidade permanente
Comeremos o saber com a serpente
Queremos o crime e o castigo
E se me rotulam indesejado
Eu me nomeio vivo

Porque vivo eu sou
culpado eu serei
e se me julgarem culpado
por tal amor ao pecado
eu direi que meu selvagem amor
saciado em distorções
distorcido em contorções
é um crime
que como um deus do vinho
eu quem criei

wesley in chains

As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
Carlos Drummond de Andrade

As pracas da cachoeira


O toque de recolher

A vida minha na verdade não é minha
Porém ao menos 10 horas ao dia
Posso ao menos abrir os olhos
E além de luz de velas e sombras
Ver fumaça , ver bombas

A vida é bela no canal A
Não existe vida no canal B
Não existe fome no canal C
E comida no canal Z

Mais uns dias e não existe
Nem casa, nem TV
Nem família , nem amigos
Não existe infância, não existe magia
Só existem sombras , não existem dias

E as crianças brincam
Com fragmentos, com armas
Mão no peito com orgulho
Morrem pela ingrata pátria
E por um orgulhoso pai da nação
E por uma dita justa causa

E nossa guerra é santa
E tantas vezes a mentira é repetida
Que se torna incontestável verdade
E não é só aqui , ali e lá
E se alguém é demônio ali
Será herói em outro lugar

Porém não pense que um dia pensei assim
Isso é história que outro se pôs a contar

Hora das sombras...

Wesley in chains

Sujeito mutante


Sujeito mutante

Tantas identidades

E eu aqui caminhante

Andante

Indefinível

Sujeito mutante

E continuo falante

De bobagens de besteiras de planos e incríveis

Mas seja lá como for

É tudo só por um instante

E continuo

E falo

E mudo, e mutante

Minha convicção de ferro

Pode não ser a mesma no próximo expressar-me

Porque sou o sujeito

Mudo

Eu sou o sujeito mudante

Mas não pense que me contradigo

Eu me construo

Numa metamorfose crisálida

Num experimentalismo mutante

Eu assumo formas

Mas não me rotulo

Não me prendo a prisão rotulada

Não posso ter a minha mudança roubada

Nem ao menos um instante

Mas agora no meio de um poema

Me peguei num impasse

Vi que meu nome mutante

Parece uma marca que nasce

Quanta mudança em um só poema

Wesley grunge