segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

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O olhar inevitável
O sorriso incontrolável
O encontro ao acaso
E os momentos
E Os tempos
E a saudade



Dividir o ócio
O esforço
O cansaço
O saciar
De um entrelaço de braços



O momento
A dor
O sorriso
E os gritos
E a noite
E o dia



E eu?



Eu não explico
Eu não entendo
Eu sinto
Sinto o que nem cabe nos sentidos
E não se traduz nos dicionários, nem nos livros
Nem em dialetos
Nem nos mais nobres espíritos



E pensamos



No contar de segundos
De centésimos
De milésimos
De centésimos de segundo



E o que posso dizer?



Que sem tese
Sem síntese
Sem teorias, nem nada mais



Eu te amo


wesley in chains

Provérbios do Inferno: William K. Blake

No tempo de semeadura, aprende; na colheita, ensina; no inverno, desfruta.
Conduz teu carro e teu arado sobre a ossada dos mortos.
O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria.
A Prudência é uma rica, feia e velha donzela cortejada pela Impotência.
Aquele que deseja e não age engendra a peste.
O verme perdoa o arado que o corta.
Imerge no rio aquele que a água ama.
O tolo não vê a mesma árvore que o sábio vê.
Aquele cuja face não fulgura jamais será uma estrela.
A Eternidade anda enamorada dos frutos do tempo.
À laboriosa abelha não sobra tempo para tristezas.
As horas de insensatez, mede-as o relógio; as de sabedoria, porém, não há relógio que as meça.
Todo alimento sadio se colhe sem rede e sem laço.
Toma número, peso & medida em ano de m´ngua.
Ave alguma se eleva a grande altura, se se eleva com suas próprias alas.
Um cadáver não revida agravos.
O ato mais alto é até outro elevar-te.
Se persistisse em sua tolice, o tolo sábio se tornaria.
A tolice é o manto da malandrice.
O manto do orgulho, a vergonha.
Prisões se constroem com pedras da Lei; Bordéis, com tijolos da Religião.
A vanglória do pavão é a glória de Deus.
O cabritismo do bode é a bondade de Deus.
A fúria do leão é a sabedoria de Deus.
A nudez da mulher é a obra de Deus.
Excesso de pranto ri. Excesso de riso chora.
O rugir de leões, o uivar de lobos, o furor do mar em procela e a espada destruidora são fragmentos de eternidade, demasiado grandes para o olho humano.
A raposa culpa o ardil, não a si mesma.
Júbilo fecunda. Tristeza engendra.
Vista o homem a pele do leão, a mulher, o velo da ovelha.
O pássaro um ninho, a aranha uma teia, o homem amizade.
O tolo, egoísta e risonho, & o tolo, sisudo e tristonho, serão ambos julgados sábios, para que sejam exemplo.
O que agora se prova outrora foi imaginário.
O rato, o camundongo, a raposa e o coelho espreitam as raízes; o leão, o tigre, o cavalo e o elefante espreitam os frutos.
A cisterna contém: a fonte transborda.
Uma só idéia impregna a imensidão.
Dize sempre o que pensas e o vil te evitará.
Tudo em que se pode crer é imagem da verdade.
Jamais uma águia perdeu tanto tempo como quando se dispôs a aprender com a gralha.
A raposa provê a si mesma, mas Deus provê ao leão.
De manhã, pensa, Ao meio-dia, age. Ao entardecer, come. De noite, dorme.
Quem consentiu que dele te aproveitasses, este te conhece.
Assim como o arado segue as palavras, Deus recompensa as preces.
Os tigres da ira são mais sábios que os cavalos da instrução.
Da água estagnada espera veneno.
Jamais saberás o que é suficiente, se não souberes o que é mais que suficiente.
Ouve a crítica do tolo! É um direito régio!
Os olhos de fogo, as narinas de ar, a boca de água, a barba de terra.
o fraco em coragem é forte em astúcia.
A macieira jamais pergunta à faia como crescer; nem o leão ao cavalo como apanhar sua presa.
Quem reconhecido recebe, abundante colheita obtém.
Se outros não fossem tolos, seríamos nós.
A alma de doce deleite jamais será maculada.
Quando vês uma Águia, vês uma parcela do Gênio; ergue a cabeça!
Assim como a lagarta escolhe as mais belas folhas para pôr seus ovos, o sacerdote lança sua maldição sobre as alegrias mais belas.
Criar uma pequena flor é labor de séculos.
Maldição tensiona: Benção relaxa.
O melhor vinho é o mais velho, a melhor água, a mais nova.
Orações não aram! Louvores não colhem!
Júbilos não riem! Tristezas não choram!
A cabeça, Sublime; o coração, Paixão; os genitais, Beleza; mãos e pés, Proporção.
Como o ar para o pássaro, ou o mar para o peixe, assim o desprezo para o desprezível.
O corvo queria tudo negro; tudo branco, a coruja.
Exuberância é Beleza.
Se seguisse os conselhos da raposa, o leão seria astuto.
O Progresso constrói caminhos retos; mas caminhos tortuosos sem Progresso são caminhos de Gênio.
Melhor matar um bebê em seu berço que acalentar desejos irrealizáveis.
Onde ausente o homem, estéril a natureza.
A verdade jamais será dita de modo compreensível, sem que nela se creia.
Suficiente! ou Demasiado.

Eu ainda lembro

eu ainda lembro

quando os dias eram bons

quando os dias passavam rápidos

e as noites brilhavam

Eu ainda lembro

Quando o tudo significava pra sempre

Quando esse vazio era só saudade

Quando cada data era comemorativa

E cada ausência era mais vontade

É, eu ainda lembro

E eu ainda queimo

Contorço-me e me distorço

E tento não mais lembrar

Tentando transformar tudo em indiferença

Cada história em pagina em branco

Tentando converter cada momento mágico

Em química, física, biologia e parte de descaso

Mas ainda assim

Por mais que viva pra tentar esquecer

Tão estrondoso impacto

Chego a uma solução alguma

E um único resultado

Eu ainda lembro


Em branco

Lembra daquele retrato?

Aquele que era meu, seu, nosso

Que era o espelho de tantos planos

De tantos enganos e vontades

Sabe que agora o pra sempre se despede da imagem

Que resta madeira e vidro

E um lugar vago no espaço

Aqui ficou por terra

Aquele sonho

Aquela sombra

A poeira nos cantos

E tantos dos teus encantos

Ficou por terra aquele pedido

De mais um tempo

De mais um fica

De mais um beijo

Ou simples presença

Recolho o retrato vazio

Ignoro a falta de mais um prato a mesa

Não resta mais que o que ficou

E que ficou fora de um retrato em que nada resta

Que agora é só vazio

Que agora é madeira, poeira e vidro


Quem?

Quem foi aquele que se levantou?

Deixou pra trás lençóis e perfume

Arrastou consigo pequenos pedaços de um par

Deixou nas escadas cartas e abrigo

Quem prometera ainda ontem?

De onde veio esse basta?

Esse abandonar e rasgar de asas

De onde veio esse basta?

Esse rasgar de laços

Que transforma tudo em menos

Que é causa em si do nada

Ah se eu soubesse que era um de nós

Trancava ainda agora a porta

Pra que não possamos recuar de tão belo gozo

Pra não despedir antes do crepúsculo

Pra viver a aurora

Silêncio



Isso aqui é o que não é

Não é sobre o título

Não pode ser grito nem cessá-lo de ser

Não pode ser nada, não pode ser barulho, nem estrondo ou sussurro

Ah silencio que não é

Que é calar a cor

Que é gritar a dor sem som

Ah silencio que não o é

Que é não dizer o que não pode ser entendido

Que é desdizer o que pode ser interpretado

Por qualquer significado

Ah se soubéssemos

Que nada é compreendido como foi dito

Não diríamos coisa alguma

E é tudo o que somos

Um erro de símbolos

Que jamais podem ser conhecidos

Que antes silenciados

Mais eis que nemmesmo o silencio é respeitado

Representam nos olhos, na cor, no abraço

E por que roubam tanto?

Por que roubam o direito à própria abstenção de significado?

E roubam o silencio

Que não mais significa nada

Que é palavra e som ainda que não ditos

E que só são

Erros

Estrago

Pra quê?



Poesia pra quê?

Pra expelir a alma?

Pra explodir em páginas amassadas minha calma

Minha bílis, meu inferno e tudo mais

De que são feitas essas paginas?

Essas linhas?

E quem quererá descobrir a carne do medo

De meu ego, do meu nego e do meu sim

E quem quererá ver o vazio?

Conhecer as lágrimas e a matéria morta dos meus pretéritos

Quem observará mérito nessa dominação?

Quem quererá rasgar com olhos e leitura

A pele do meu eu

Quem quererá resultados de uma autópsia

Auto-rasgo de peito, de alma e de culpa?

Eu sou meia dúzia de páginas amassadas, de reticências e de...