EM CARNE E OSSO Então você Pensou Que talvez gostasse de ir ao show Para sentir a calorosa emoção da confusão Aquela aura luminosa de cadete espacial Diga-me, algo está te iludindo, luz do sol? Não era isto o que você esperava ver? Se você quiser descobrir O que há por trás destes olhos frios Você apenas tem de, com as garras Abrir o seu caminho através deste disfarce.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
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Provérbios do Inferno: William K. Blake
Eu ainda lembro
eu ainda lembro
quando os dias eram bons
quando os dias passavam rápidos
e as noites brilhavam
Eu ainda lembro
Quando o tudo significava pra sempre
Quando esse vazio era só saudade
Quando cada data era comemorativa
E cada ausência era mais vontade
É, eu ainda lembro
E eu ainda queimo
Contorço-me e me distorço
E tento não mais lembrar
Tentando transformar tudo em indiferença
Cada história em pagina em branco
Tentando converter cada momento mágico
Em química, física, biologia e parte de descaso
Mas ainda assim
Por mais que viva pra tentar esquecer
Tão estrondoso impacto
Chego a uma solução alguma
E um único resultado
Eu ainda lembro
Em branco
Lembra daquele retrato?
Aquele que era meu, seu, nosso
Que era o espelho de tantos planos
De tantos enganos e vontades
Sabe que agora o pra sempre se despede da imagem
Que resta madeira e vidro
E um lugar vago no espaço
Aqui ficou por terra
Aquele sonho
Aquela sombra
A poeira nos cantos
E tantos dos teus encantos
Ficou por terra aquele pedido
De mais um tempo
De mais um fica
De mais um beijo
Ou simples presença
Recolho o retrato vazio
Ignoro a falta de mais um prato a mesa
Não resta mais que o que ficou
E que ficou fora de um retrato em que nada resta
Que agora é só vazio
Que agora é madeira, poeira e vidro
Quem?
Quem foi aquele que se levantou?
Deixou pra trás lençóis e perfume
Arrastou consigo pequenos pedaços de um par
Deixou nas escadas cartas e abrigo
Quem prometera ainda ontem?
De onde veio esse basta?
Esse abandonar e rasgar de asas
De onde veio esse basta?
Esse rasgar de laços
Que transforma tudo em menos
Que é causa em si do nada
Ah se eu soubesse que era um de nós
Trancava ainda agora a porta
Pra que não possamos recuar de tão belo gozo
Pra não despedir antes do crepúsculo
Pra viver a aurora
Silêncio
Isso aqui é o que não é
Não é sobre o título
Não pode ser grito nem cessá-lo de ser
Não pode ser nada, não pode ser barulho, nem estrondo ou sussurro
Ah silencio que não é
Que é calar a cor
Que é gritar a dor sem som
Ah silencio que não o é
Que é não dizer o que não pode ser entendido
Que é desdizer o que pode ser interpretado
Por qualquer significado
Ah se soubéssemos
Que nada é compreendido como foi dito
Não diríamos coisa alguma
E é tudo o que somos
Um erro de símbolos
Que jamais podem ser conhecidos
Que antes silenciados
Mais eis que nemmesmo o silencio é respeitado
Representam nos olhos, na cor, no abraço
E por que roubam tanto?
Por que roubam o direito à própria abstenção de significado?
E roubam o silencio
Que não mais significa nada
Que é palavra e som ainda que não ditos
E que só são
Erros
Estrago
Pra quê?
Poesia pra quê?
Pra expelir a alma?
Pra explodir em páginas amassadas minha calma
Minha bílis, meu inferno e tudo mais
De que são feitas essas paginas?
Essas linhas?
E quem quererá descobrir a carne do medo
De meu ego, do meu nego e do meu sim
E quem quererá ver o vazio?
Conhecer as lágrimas e a matéria morta dos meus pretéritos
Quem observará mérito nessa dominação?
Quem quererá rasgar com olhos e leitura
A pele do meu eu
Quem quererá resultados de uma autópsia
Auto-rasgo de peito, de alma e de culpa?
Eu sou meia dúzia de páginas amassadas, de reticências e de...