domingo, 19 de agosto de 2012

Decisão



O que é aquilo?
Um papel!
Um poema?
Corre, apanha, esconde e rasga
Queime em fogo alto, não deixe vestígios

Não, isso é exposição demais
São ossos descobertos de minha fratura exposta
É exposição dos meus sentidos ainda que em linhas tortas

Posso ate disfarçar de métrica, mas lá estou
Então corro e rasgo
Sim, sim
 Vou rasgar todos
E que nenhuma memória os lembre

Então, Grito-os aos ventos
E meu grito é alto
Garganta arranha seca
Secamente disseco meu cadáver
E cada vez que me escuta tens um pedaço de mim

E digo, com as mãos, palavras e olhos
Mais do que devia
Todo o poema se dirige a uma intenção ainda que não exposta
E a minha proposta é que os queime
E assim, não dito, a vida passa, nada feito
Não expõe jamais tua cara
Nenhum poder chega ao teu esconderijo
Queime-os todos
Queime-os
Você mesmo
Que na verdade sou eu
Queime-os
Sem riscos

Mas em papel exposto ao público
E em face dada a tapa
É mais um que chega ao fim

Por: Wesley Grunge

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Muitos e Nenhum





Por trás do olhar que não diz nada
Do riso que dissimula
Do sentimento profundo
E muitas vezes declarado
A sensibilidade
Este sou eu?
Não, não sou

Logo ali, mais em frente
O diabo no corpo
A ferocidade do sexo
As palavras amargas distorcendo a vida
A argumentação seca
E um humor ácido
A violência dos gestos e das paixões
Eis que sim
Me encontrou
Sim
Mas esse não sou eu

Racionalidade
O olhar pra baixo pra ver a vida
Ou o olhar de baixo pra ter a vida
Livros, cafés, filmes
E toda sorte de aprendizados
Controle da raiva, do medo e da dor
Parece tão esperto, tão sério
Equilibrado
Sim , mas esse não sou eu

A vontade de viver
a luta diária
Começar de novo para errar outra vez
E mais uma vez voltar do fundo do poço
Levantar, correr, abrir as asas e cair
Parece tão determinado a chegar lá
Mas esse
Não sou eu

Cabeça baixa, quase ao chão
Disfarçando a dor com uma gargalhada sonora
Medo de abrir coração e boca
Calando o vulcão
Tornando tudo silêncio
Parece tão triste, se parece tanto comigo
Mas esse, não sou eu

Então os guardas
Psicanalistas, curiosos, amigos
E você que amo ainda que não saibas
Trazem suas perguntas
Respondo-as todas
Com sinceridade absurda
Ainda que seja logo morto
Mas esse a que chegas acreditando ter definido
É apenas o que tu pensas
Esse
Não sou eu

Então vai mais a fundo?
Arranca minha língua num beijo selvagem
Testa meu sexo e mapeia meu corpo e desejo
Olha nos olhos buscando a verdade das palavras
Escuta os meus gritos
Zela o sono
E cuida do cadeado de minha prisão

Mais a fundo então
Mata-me, arranca-me a vida
Me testa quanto à ressurreição
Me parte em pedaços
Pega meu coração ainda quente
Separa as partes
Meu cérebro
Tudo
E não é mais nada
E esse
Ainda não sou eu

Mais que uma definição

Mas olhe mais de perto


Por: Wesley Grunge


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Procissão de Mortos




Era uma manhã clara
Acordei cedo, não havia nada no dia
Café, banho e filosofia amarga
Eis o que parece uma vida triste
Mas tu não conhece a dança noturna nem a magia de uma cerveja gelada

Mas vamos aos fatos
Ladeira a baixo, rua fria
Eis que a procissão dos mortos se encontra a alguns passos
Observador calmo como só a noite pode criar
Isso é cansaço da vida
Vejo-me em banco sentado
A procissão continua

Choro, desespero e negro diante do silêncio
O caminho para um lugar melhor é a pedagogia dos fracos

É uma igreja que anda em passos lentos
Dizendo o que é na verdade
Uma procissão de mortos vivos
Confundindo-se com o objeto de seu pranto
                                     

Por: Wesley Grunge



Declaração do Amor Confuso



Explicar, tornar claro e cognoscível
Eis que nosso encontro é sempre em matéria confundível
Disse que disse o que não queria dizer
Fazer-me entendido ainda sem entender

Eu gosto mesmo é do sorriso bobo
Sempre quase se desculpando por si mesmo  
E eu não sei o sentido do teu desejo
Mas observo cuidadoso

O encontro é seleção de movimentos errados
Ou seriam certos? O que é certeza? Do que estou falando?
Já nem sei onde estou. Ou sei?

Ah, sim , sim
Nosso encontro, que deveras desencontro
Dificilmente planejado ainda que desejo
É um abraço de forma errada
Palavras erradas e correções e repetições
Tudo junto como num redemoinho
Tudo confundir-se, tudo embaraça

E vou lembrar dos teus abraços, ou talvez mais do sorriso
Ou talvez mais dos meus erros
Burro, burro, burro
Esqueci de te contar o que havia para ser contado

Todo o sentimento do mundo
Num rapaz que se chama estrago
Num encontro que se chama embaraço
Num desejo que se acha verdadeiro
Num espontâneo tentado a ser ensaiado

Embaraçosamente chego ao fim sem ter terminado
Falando sem parar
Mais rápido, mais louco, mais sóbrio, mais claro, ou não
E chegamos enfim ao fato, concreto e coerente de que
Com certeza e com clareza nenhuma da medida das coisas ou das palavras
Eu penso que quero, eu quero, tipo assim quero, tipo assim desejo
Daquele jeito, forma, ou maneira, ou sei lá o que

Ah sim, lembrei aquela frase dita nos filmes e desenhos animados
E em produtos vendidos em supermercados
eu te amo

Por: Wesley Grunge